domingo, 22 de julho de 2007

um rosbife para a cama, meias coloridas para uma calçada.

Abriu o guarda roupa e escolheu a meia mais alegre e colorida, queria viver um dia diferente. Uma sensação de tudo estar no seu devido lugar invadiu-lhe o peito com tamanha força que se pôs a chorar, seu choro não era apenas um desabafo, pois até suas lágrimas eram lágrimas de um novo dia, lágrimas alegres e coloridas como suas meias.
Decidiu não pensar em nada, deixou que o vento marcasse seu caminho com uma brisa suave que sentia tocar em suas sobrancelhas, nunca havia reparado que podia sentir o vento com elas. Seu caminho foi até a padaria, onde comprou um único pão e uma única fatia de rosbife, não era seu frios preferido, mas aquele nome não lhe saia da cabeça, como uma música que fica lá no fundo do cérebro tocando sem a nossa percepção e quando nos damos por nós virou a trilha sonora do dia, sim, aquele rosbife seria o grande espetáculo do dia.
Voltou para casa. Guardou o pão no forno e o rosbife na geladeira, esperaria o momento crucial para comê-los. Sentada no sofá percebeu-se só, só com suas meias. A vontade de compartilhar daquele sentimento matinal invadia-lhe o corpo, passando por seu sangue, aconchegando-se em seus músculos, ultrapassando seus ossos e acabou tornando-se o desejo da sua alma, seria essa então a grande vontade do dia.
Não mais que uma hora depois ele chegou. Com seu ar cansado, seus pés doloridos e sua mente gasta de tanto pensar em coisas que não lhe traziam resultado, mas precisava calculá-las e racionalizar sua vida. Ele chegou e um beijo lhe deu. Foi para o chuveiro. Durante seu banho, ela preparava o pão com o grande espetáculo do dia, o rosbife. Deixou o lanche em cima da mesa e sentou-se novamente no sofá olhando suas meias coloridas, só agora percebendo que uma delas tinha um enorme furo no calcanhar, como não pôde perceber aquele furo? Entretida em seus pensamentos não percebeu a saída dele do banho e, só depois de longos minutos resolveu chamá-lo, mas ele já estava dormindo, em plena luz do dia ele resolveu afundar seu corpo podre, que só não se comparava a um cadáver, pois o sangue ainda lhe pulsava nas veias, naquela cama que por tantas noites, madrugadas e dias foi o seu ninho de amor, mas que agora era a grande perda do seu dia.
Queria ter tido a idéia de arrancar aquela cama dali antes, jogado-a pela janela, queimado aquele colchão em que agora descansava o seu anjo. Ocorreu-lhe então de súbito um pensamento... Compartilharia do pão com ele assim mesmo, já que teve a satisfação de comprá-lo e esperar até a chegada dele para comê-lo. Pegou o pão em cima da mesa e colocou-o em cima do travesseiro que logo a noite daria lugar a sua cabeça e saiu.
Saiu de meias coloridas e agora com um enorme furo no calcanhar pela calçada imunda e indiferente a ela. Perdera o seu ânimo do dia, ia em direção ao bar para tomar apenas uma dose daquelas de levantar defunto, para ter a coragem de voltar para casa e deitar-se ao lado da pessoa que acabara de traí-la com o grande espetáculo do dia, o rosbife, que agora era a grande cagada.

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