Sentia vontade de ir embora. Não
por tristezas, angustias, remorsos.
Queria ir por saudade. Saudade de
um lugar que não tinha visitado, mas que estava tão vivo no seu corpo que não
conseguia pensar na possibilidade de se manter nesse mesmo lugar que estava
agora por tanto tempo. Em algum lugar o
canto dos pássaros era mais melodioso, as cores do horizonte eram mais fortes,
os traços das ruas eram mais delicados, os sorrisos eram mais sinceros, os
beijos mais longos, a vida mais curta, por ser tão gostosa de ser vivida que se
encurtava na rapidez com que o tempo passava nas alegrias que com o tempo eram
vividas.
O corpo pedia novos toques. Toques
mais suaves, mais sentidos, menos obrigatórios. Sussurros mais sinceros, mais
baixos, mais poéticos, menos ávidos de suprir qualquer carência.
Queria acordar, não por obrigação
de viver, mas por poder respirar uma brisa salgada trazida pelo mar, para poder
piscar no ritmo contínuo das danças cotidianas que aconteciam nas ruas, para
ouvir o coração bater no pulso do passo das crianças que corriam em direção a
um pote de ouro no fim do arco íris. Lá, onde o sol brilhava mais forte, as
cores do arco íris se refletiam no horizonte e ele era tão vivo que parecia
mais próximo, era um horizonte habitável. Não era um horizonte inalcançável, ou
distante da realidade, ou longe, tão longe que impossibilitava a chegada a si
mesmo. Era um quadro, uma pintura que pedia para ser habitada, um convite para
se viver ali, uma música que encantava os ouvidos e levava, embalados nas doces
notas da natureza, qualquer pessoa que ansiasse chegar ali. Não era preciso
caminhar para alcançá-lo, apenas se fechava os olhos e se desejava estar. E
estando lá tudo era.
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